Vivemos em dias tumultuosos. Nossa impressão pessoal dos fatos contemporâneos é de grande preocupação; mas como perceber com realismo tudo aquilo que hoje representa ameaça ao equilíbrio socioeconômico, e ainda assim inspirar esperança nos jovens?
O desafio que trago nesse pequeno ensaio, a todo adulto líder escoteiro que se preocupa com a educação de jovens, é o de manter um comportamento positivo em meio a um cenário de dificuldades.
Todos sabemos que B.P. enfrentou desafio parecido na Inglaterra de sua época. De que forma a sociedade inglesa inspiraria a juventude a ter esperança e a participar da construção de um mundo melhor? Como construir uma base sólida de valores, com cidadãos conscientes e responsáveis, dedicados e confiáveis, limpos de corpo e alma?
Corrupção, desemprego, aumento do custo de vida, perdas emocionais e familiares, descrença no sistema político-judiciário-administrativo, enfim, todos temas do cotidiano da nossa vida e que assusta a grande maioria do povo brasileiro. Como um líder pode inspirar jovens a ter fé na construção de um Brasil melhor?
Creio que a primeira regra é convencer-se de que é possível. Sem essa crença será muito difícil inspirar outras pessoas.
Já que exemplificamos alguns dos temas que hoje nos afligem e desanimam, passamos ao seu enfrentamento.
-A corrupção
A corrupção é uma falha no padrão ético-moral de uma sociedade.
Apesar de ser um mal amplamente difundido no Brasil e com consequências deletérias, o jovem precisa entender que não é um privilégio dos brasileiros.
Qualquer país com algum grau de debilidade democrática facilita a propagação da corrupção, que está associada a fragilidade dos padrões éticos daquela determinada sociedade, os quais acabam por refletir sobre a ética do agente público corrupto, sendo este um mero exemplar do meio em que vive e se desenvolve.
Um povo que preza a honestidade alcançará governantes honestos.
Nossos princípios escoteiros são ideais de conduta que representam também um compromisso de vivência externa ao Escotismo, expandindo o cuidado com o bem estar e com o crescimento social e do próximo, seja como líder, agente multiplicador ou mesmo pelo proselitismo do bem.
A esperança do jovem deve estar no seu potencial de reação e na transformação gradativa da sua comunidade de entorno, acreditando que é possível expandir uma corrente do bem e assim promover mudanças na noção de moral e bem comum.
– O desemprego
No que concerne ao jovem, o desemprego alcança prioritariamente os despreparados. A escolaridade é vista como fator primordial para a participação nas atividades econômicas do país.
Por isso os jovens precisam ser estimulados e orientados. Como as vezes não encontram estímulo em casa e na escola, o líder escoteiro passa a exercer um papel expressivo nessa ajuda. Temos uma juventude sedenta por mudança, com enorme potencial para transformar o Brasil e fazer avançar a democracia, reduzindo a desigualdade social.
É importante deixar claro que grupos de jovens que nem trabalham e nem estudam e não se preocupam em continuar morando com os seus pais, não conseguirão participar decisivamente das mudanças necessárias ao país.
Assim, verificamos que o desemprego não decorre apenas da falta de oferta, mas também do desânimo e imobilismo na zona de conforto.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2017 o país tinha 11,16 milhões de pessoas de 15 a 29 anos que não estudavam e nem trabalhavam, 619 mil a mais do que em 2016.
Esse contingente representava 23% da população dessa faixa etária em 2017. Essa proporção era menor no ano anterior, de 21,8%.
Como já mencionado, jovens que não encontram espaço no mercado de trabalho, não demonstram interesse em procurar emprego e também não querem saber de continuar a estudar, não terão sucesso em contribuir para as mudanças necessárias ao país.
O líder adulto deve ser um incentivador e quando possível um facilitador para os jovens, promovendo oportunidades de panorama vocacional junto aos profissionais que puder aglutinar.
São milhões de jovens que nem estudam, nem trabalham e nem procuram emprego. Num cenário de baixo desemprego e de economia em expansão, esta é uma parcela importante de brasileiros que não está participando do desenvolvimento experimentado nos últimos anos.
Não podemos permitir que essa parcela de jovens se imobilize ou se sinta desmotivada por não conseguir visualizar o caminho que deve seguir. Caso contrário, esses jovens de hoje, serão certamente os profissionais desmotivados e despreparados de amanhã, e suas expectativas serão frustradas.
-Aumento do custo de vida
Apesar de existirem muitos parâmetros importantes para se determinar as condições de vida de uma pessoa, como por exemplo, o acesso a serviços públicos básicos, a renda ainda é o principal determinante do nível de bem-estar de uma população.
Em uma economia injusta o desequilíbrio entre o aumento salarial e do custo de vida é sentido pelos jovens no seu próprio cotidiano familiar.
Como minimizar essa sensação de impotência e inspirar a esperança em meio a essa realidade?
Crer que o somatório de esforços supera as dificuldades isoladas e, que as contingências econômicas são questões sujeitas ao momento dos mercados, talvez seja o caminho para superar o desânimo e inspirar a esperança.
A consciência de que o consumo de ostentação e vaidade deve dar lugar ao consumo consciente e de necessidade parece ser o caminho para mudança de paradigmas.
Projetos pessoais de poupança baseados em manufatura artesanal ou em trabalhos de contratação temporária (jardineiro, babá, passeador de cães, jornaleiro, digitador, etc.) são opções de que o jovem pode lançar mão em tempos difíceis para complementar a renda.
– Perdas emocionais e familiares
Não é raro um jovem atravessar um momento de fragilidade emocional decorrente de uma ruptura, seja esta de um relacionamento afetivo ou mesmo do ambiente familiar, devido a morte ou separação de seus pais.
Depressão, ansiedade, síndrome do pânico, hostilidade, medo, raiva, abuso de álcool ou drogas e até dependência química podem ser manifestos pedidos de socorro de um jovem menos fortalecido para esse tipo de sofrimento.
A perda é uma experiência humana universal, mas algumas pessoas podem ser menos resilientes para lidar com a perda do amor, morte de um parente ou mesmo para dissolução do seu ambiente familiar.
Para inspirar a esperança em dias melhores o líder escoteiro pode trabalhar com o jovem a questão da aceitação.
O jovem precisa ser auxiliado na compreensão de que a vida é cheia de momentos bons e ruins que se alternam e que por isso não pode deixar sua vida cair, mantendo o bom ânimo e desempenhando as atividades necessárias a sua subsistência, pois dias melhores virão.
– Descrença no sistema político-judiciário-administrativo.
Como diz o ditado: “Não há mal que sempre dure e nem bem que nunca se acabe”.
Se um político, se uma corte, se um governante decepciona no exercício de suas atividades, devemos ter consciência de que os mandatos se sucedem, com novos representantes e novos períodos eletivos.
O tempo guarda esperança em novos dias, em ventos de justiça social e de exercício de direitos antes inatingíveis.
O líder adulto escoteiro tem uma farta gama de exemplos históricos e de momentos sociais em que sociedades do mundo todo conseguiram emergir de uma longa noite de opressão para dias de grandes esperanças.
Finalmente e igualmente importante: liderar pelo exemplo.
Todas as observações que verbalizamos, todos os nossos pontos de vista e pensamentos a respeito da política, economia e sociedade precisam ser positivos e eivados de esperança. Praguejar e maldizer são exemplos que sempre serão registrados e devem ser evitados.
Pretendemos que o cerne do presente ensaio se fundamente na tarefa de inspirar os jovens a ter esperança no futuro, mesmo vivendo em dias difíceis. A acreditarem que podem contribuir pessoalmente com as mudanças necessárias.
Fazê-los enxergar com clareza o contexto em que vivemos, de diferentes pontos de vista, para que possam entender os seus próprios sentimentos e anseios.
É possível inspirar o jovem na condução de um processo onde ele possa pesar as alternativas e fazer o seu próprio julgamento.
A escolha pessoal deve ser o caminho que deve ser tomado pelo jovem, de maneira a analisar completa e honestamente o contexto, pensando por si próprio e tomando as decisões positivas e com fé na sua participação nas mudanças que vão assegurar um futuro melhor para todos.
ROBSON DA SILVA SANTOS
Professor universitário
Coronel PM da reserva remunerada
Ex Membro da Equipe Nacional de Adestramento – ENA
Ex Membro da Comissão Nacional do Ramo Senior
Ex Diretor de Curso de Insígnia de Madeira
Ex Assistente Regional do Ramo Pioneiro
IM dos Ramos Senior e Pioneiro
Escoteiro Lis de Ouro
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