Do bom entendimento tiveram origem grandes ações. Todos sabem de cor e salteado que o Escotismo é um movimento civil, que não é pré militar, nem para militar. Sabemos há muito tempo, pelos jovens que estão trilhando a carreira militar, que o Escotismo contribui muito com o conhecimento de técnicas usadas na carreira militar. Até admitimos que o Escotismo pode ter despertado o interesse no jovem em seguir a carreira militar, mas isso não faz dele, um movimento pré militar.
Deve ter contribuído para esta distorção de identidade, esta falsa interpretação, a atuação dos Escoteiros que, por ocasião dos conflitos e da revolução, auxiliaram as Forças Armadas em diversos setores, como mensageiros, auxilio a enfermagem, e atividades de apoio. Houve época em que o Escoteiro do Mar de Primeira Classe e com cinco anos de Tropa, era dispensado do serviço militar, recebendo a Carteira de Reservista de 2ª. Classe da Marinha de Guerra. Mas também auxiliou em outros conflitos, como acidentes de grandes proporções, terremotos, desmoronamentos, enchentes, inúmeras campanhas de solidariedade etc e que não fazem do Escotismo, um movimento assistencialista…
Talvez, alguém querendo destacar a característica civil do Escotismo, criou uma frase que acabou servindo de “bengala” para aqueles que não apreciam: “o escoteiro não marcha” (embora ele marche pela sua escola), oriunda de um comentário atribuído a BP que recomendou, em outras palavras, que o Escoteiro não viva marchando, ocupando o tempo escasso, destinado as reuniões e aplicação do método, para ficarem treinando horas a fio para marcharem. Uma questão de entendimento, que causa problemas até os dias de hoje. Nada contra o ato de marchar e sim contra a Tropa que faz da marcha a sua principal ocupação!
No Escotismo, o que parece militarismo, são apenas atitudes que facilitam a administração, a movimentação e a disciplina voluntária! Por exemplo, temos as Patrulhas, os sinais manuais, o aprendizado com bússolas, topografia, acampamentos, as cerimônias cívicas, a inspeção, atividades na mata etc. etc. etc.
E o uniforme? Ah! O uniforme… De algum tempo para cá, as Diretorias querem descaracterizar os uniformes, tirando a linhagem militar, talvez para reforçar que é um Movimento Civil. Será que é por aí? Não deveriam ter ouvido a opinião do jovem que, pensa ao contrário, principalmente as Tropas Seniores? Esqueceram de consultar o jovem… Não convinha… Afinal, se o Escotismo foi feito para eles então, devem ser ouvidas as suas aspirações! E, o principal é que não basta ouvir o jovem… Tem que entende-lo!
Sabemos que os jovens gostam de “bancar o militar” em atividades aventureiras e desafiadoras, pois estão na idade adequada para tal. Adoram atividades tipo “Sobrevivência na Selva”, e vestir-se ”à lá militar” e até portar-se como militares, com o famoso “paga vinte flexões”! Existem, embora já tenha diminuído muito, verdadeiras Tropas de “Rambos”, que você não as distingue de uma Patrulha de Guerrilheiros. Vejam o “Grito de Guerra” adotada pelo Ramo Sênior em todo o país que diz: “E a Tropa Sênior? Ataca, massacra, impõe o seu valor! Não tem medo de nada, esta seção só faz terror! Etc. etc. Tanto é que a UEB/DN teve que proibir as roupas camufladas e o uso de qualquer equipamento de cunho militar.
Então devemos escutar os jovens e fazer patrulhas de guerrilheiros, como eles gostam? Claro que não! Aí entra o que BP propôs introduzindo o adulto para orientar estes jovens na imaturidade normal de sua idade! O chefe interfere discretamente no comportamento dos jovens e como irmão mais velho, orienta-os na incerteza e na confusão! Resumindo: Não procede a afirmação que os jovens não querem a aproximação com os militares! Esta afirmação deve ter sido feita por quem não tem uma vivência consistente no Movimento Escoteiro, de suas características intrínsecas e suas Místicas & Tradições. Se tivessem feito uma pesquisa ampla e séria, nas bases, iriam descobrir que não é essa bagunça (que alguns chamam de modernidade) que o jovem quer e que está denegrindo a nossa imagem! Cada um se veste como quer, aparentando um relaxamento geral. Todo jovem almeja por um limite, um ponto que ele se sinta seguro e alguém em quem possa confiar.
Falta um maior número de atividades que desenvolvam o patriotismo. Respeitando e tomando conhecimento das nossas datas cívicas, conhecer e cantar os Hinos Pátrios, notadamente nas atividades cívicas de hasteamento e arreamento das bandeiras. Chega de participarem do hasteamento todo malvestido, com aspecto de indiferença, parecendo que vieram de um jogo de futebol. Temos que levar à sério certos princípios de ordem, respeito e disciplina. Se os chefes se preocuparem com as cerimônias, seus Escoteiros o seguirão. Nem será preciso mandar! Cabe a nós evitarmos a militarização das nossas Tropas. Disciplina Escoteira é voluntária e entendida como necessária para jogarmos o jogo. É uma idade que precisam de alguém a quem admirem e respeitem, um amigo para todas as horas: seu chefe!
ELMER PESSOA é dirigente do 55º Grupo Escoteiro Morvan Dias Figueiredo, de Santos (SP) e um escoteiro “Velho Lobo” com mais de 50 anos de serviços prestados.
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