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O HÁBITO NÃO FAZ O MONGE – o uniforme do escoteiro.
Tendo sido fundado por Baden-Powell, um ilustre militar e um nobre cavalheiro, o Escotismo não herdou o espírito do militar, mas sim o do cavalheiro. O fundador quis, desde o princípio, que o Escotismo fosse identificado como um símbolo de Paz e não como um instrumento para a guerra. Por isso, caraterizou-o como um espaço de liberdade de pensamento e de ação para a educação do cidadão livre, responsável e solidariamente ativo na construção de um mundo melhor, pensando e agindo para a felicidade dos outros.
Há quem, de forma consciente ou inconsciente, tenda a identificar o uso de uniformes ou equipamentos com “visões” de regimes totalitários, limitadores das liberdades e garantias individuais e coletivas dos povos, ou ainda com movimentos de caris militarista.
O dicionário da língua portuguesa define uniforme como sendo “vestuário com características específicas, usado por todos os membros de uma instituição ou de um serviço”, neste sentido, ele serve para identificar os membros de uma instituição e para adequar o vestuário à ação de cada um dos seus membros. É um elemento que marca um sentimento de pertença e de bem-estar no desenvolvimento das missões. É por isso que as diversas associações escoteiras têm uniformes diferentes umas das outras, mancando assim as suas caraterísticas próprias e a sua identidade, mas todas tendo elementos em comum, podendo dizer-se que são variações de um mesmo arquétipo, tanto no sentido de Platão[1] como de Jung[2].
O uniforme escoteiro é composto por várias peças que se combinam entre si, dando resposta ao conforto que cada escuteiro deve ter nas diversas atividades em que participa, mas também aos seus gostos pessoais e ao seu bem-estar. Qualquer destas combinações mantem um sentido de conjunto, sem que se evolua para um monobloco rígido, tanto mais que cada uniforme espelha o percurso vivido por cada jovem ou adulto.
Basicamente, os escutas podem usar: calças ou calões azuis para todos os associados, sendo que os associados femininos podem ainda usar saia ou saia-calça; camisa de cor bege; chapéu ou «beret» (boina); lenço triangular com as cores de cada secção ou de dirigente; diversas insígnias; e ainda agasalhos e camisolas de algodão.
Por exemplo, no Corpo Nacional de Escutas, para o uso do chapéu, dito de B.-P., tem que haver uma decisão formal do conselho de Agrupamento para que uma Unidade o possa usar, já para o uso de calções ou de calças, cada um pode usar uma destas peças de acordo com o seu gosto pessoal, sentido estético, conforto ou sensibilidade, de forma que a dignidade individual não seja contida pela vontade coletiva. Em atos protocolares não escutistas é recomendado o uniforme de protocolo por parte dos associados adultos, masculinos ou femininos.
Porque o uniforme escutista identifica o Movimento e os seus valores, o mesmo não pode ser usado em atos ou locais incompatíveis com os valores defendidos pelo Corpo Nacional de Escutas.
O povo, na sua infindável sabedoria, diz-nos que «O hábito não faz o monge», por isso, o que verdadeiramente define o Escoteiro e o identifica perante a sociedade não é o “hábito”, isto é o uniforme, este é só uma exteriorização de uma forma de ser e de estar marcada por valores humanos e cristãos que fazem do “monge”, veja-se do Escoteiro, uma pessoa que leva uma vida marcada pelo serviço aos outros.
[1] Tipo ideal e supremo de que as coisas concretas são cópias.
[2] Imagens e símbolos ancestrais que formam, no seu conjunto, o inconsciente coletivo de um povo e se revelam nos contos, lendas populares e tradições.
CARLOS ALBERTO PEREIRA é empresário e ex presidente nacional do CNE – Corpo Nacional de Escutas, Escotismo Católico Português – residente em Braga (Portugal). Escreve uma coluna mensal para o jornal ‘Correio do Minho’, sobre escotismo.