O fenômeno on-line conhecido como “Baleia Azul” é um jogo encontrado em grupos fechados do Facebook ou do Twitter e em conversas do WhatsApp, que, por meio de 50 desafios, leva os adolescentes a executarem tarefas bastante arriscadas, estimulando o isolamento e ocasionando danos físicos e mentais.
O que chama muito a atenção nesse caso é a obediência desses adolescentes a esses “curadores”, a ponto de mutilarem seus corpos, se jogarem de lugares altos, como pontes e telhados, chegando ao extremo de tirarem a própria vida, somente para demonstrar a seu grupo de “amigos” sua coragem de seguir com esta insensatez.
Na adolescência existe uma série de fatores que torna os jovens muito vulneráveis. Trata-se de uma fase conturbada e conflituosa, na qual as mudanças físicas e psicológicas dos indivíduos se apresentam de uma maneira rápida, deixando-os confusos e perdidos.
Uma das características comuns da adolescência é a necessidade de pertencer a grupos. O adolescente busca consolidar sua identidade, encontrar pessoas com quem possa compartilhar momentos, segredos, dúvidas, pensamentos e sentimentos. Desta forma, o grupo de pares assume uma importância gigantesca, inclusive afastando os adolescentes do contexto familiar. O grupo passa a atuar como regulador dos comportamentos, levando seus integrantes a aceitarem certas normas e regras e orientando suas condutas.
Os idealizadores deste macabro jogo “Baleia Azul” foram muito espertos em sua abordagem para conquistar os adolescentes, apelando para esse sentido de pertencimento que eles tanto buscam. Logo no início do jogo, os jovens são desafiados a se cortar com uma navalha e enviar a foto para o “curador”. Isso funciona como um rito de iniciação, depois do qual eles passam a fazer parte dessa “comunidade”.
A convocação a pertencer ao grupo dos “Baleias Azuis” também é percebida em outras tarefas, como quando pedem aos participantes que escrevam em suas redes sociais “Eu sou uma Baleia” e quando são convocados a “Encontrar outra Baleia Azul”, evocando mais uma vez a ideia de pertencimento. Os adolescentes são “convocados” a ser parte deste grupo, a serem aceitos, e isso os estimula muito.
Outra característica da adolescência é que os jovens se sentem atraídos pelo perigo e são estimulados por desafios. E os idealizadores deste jogo também se valeram disso para iludir os adolescentes, apelando para a superação de limites e comprovação de bravura. Eles desafiam os participantes a provar que são corajosos através de tarefas mórbidas e trágicas, como se cortar em partes do corpo, se machucar, assistir a filmes de terror, subir em lugares altos e, por fim, tirar a própria vida.
É necessário ficar atento para os aspectos problemáticos que envolvem este jogo e aproveitar esta situação para refletir e buscar ações que possam auxiliar esses jovens a enfrentar com clareza os perigos a que estão expostos.
Uma ótima maneira de fazer isso é a prática de atividades saudáveis com grupos construtivos – e é aí que o Movimento Escoteiro se destaca, proporcionando a esses jovens um espaço que os acolhe e os faz sentir que pertencem e são aceitos em um grupo.
Os benefícios são inúmeros. Entre eles: a consolidação da identidade, a formação do caráter por meio da possibilidade de pensar e agir com o grupo, a companhia para que os jovens não se sintam sozinhos e desamparados, e a melhora em suas relações sociais de modo geral.
Além disso, no Movimento Escoteiro, as crianças e adolescentes também podem demonstrar que possuem coragem, mas de forma saudável, através do Método Escoteiro, que estimula as capacidades e interesses de cada jovem por meio de desafios a serem superados, da vivência de aventuras, do incentivo à exploração, da realização de descobertas e experimentação de coisas novas e do desenvolvimento da capacidade de achar soluções, sempre respeitando os limites de cada um.
O Movimento Escoteiro atua ajudando esses jovens a saírem da clausura da tela do computador e do perigo desses jogos virtuais, trazendo-os para a realidade, com possibilidade de “jogar”, porém com os benefícios de aprender a ganhar e perder, de se sentir útil e importante e aprimorar seu desenvolvimento, assumindo a responsabilidade por seu corpo e sua vida, e os respeitando.
O Escotismo convida os jovens não a mutilar o corpo com um desenho, como acontece no jogo “Baleia Azul”, mas a criar marcas profundas em sua alma, com as lembranças eternas de agradáveis momentos com um grupo de amigos e com o fortalecimento da confiança e da autoestima.
CLARA CALDEIRA DIAS
Psicologa Clínica é Mestre em Psicologia da Adolescência pela Universidad Del Desarrollo, Chile, e chefe escoteira no 13ºGE Flor de Lis (RJ).
Contato: [email protected]
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