No livro fundador da IV Secção, A Caminho do Sucesso, cuja primeira edição remonta a 1922, Baden-Powell define o Pioneirismo da seguinte forma:
«Os pioneiros formam uma fraternidade do Ar Livre para Servir. São viandantes da Via Pública e campistas dos bosques, capazes de tratarem de si, mas capazes também de prestarem auxílio aos outros. São de facto uma Secção mais velha da obra dos Escoteiros – jovens de mais de dezoito anos de idade.
Os quatro objectivos principais da educação escoteira são desenvolver os seguintes pontos
Carácter e inteligência.
Habilidade Manual e Aptidão.
Saúde e robustez.
Serviço ao próximo e Civismo.»[1]
Definição esta que se complementa com três outras afirmações relevantes:
- «Por caminho não quero significar um caminhar ao acaso, sem finalidade, mas antes um trajecto agradável com um objectivo definido, ao mesmo tempo que há a consciência das dificuldades e perigos que podem deparar-se no percurso.»
- (…) A vida seria aborrecida se fosse toda de rosas; o sal tomado só é amargo; mas dá sabor agradável à comida. As dificuldades são o sal da vida.»[2]
- «Aquilo que mais vale a pena possuir é o que não se compra com dinheiro».[3]
Tendo em consideração este pensamento de Baden-Powell, podemos dizer que o caminho, qualquer que seja, no escutismo, conduz a uma meta, a um objetivo, sendo essa meta que o justifica e que lhe dá razão de ser. Portando, o caminho é um meio e não um fim, em si mesmo. Desta forma, o Pioneirismo é uma proposta educativa guiada pela pedagogia do caminho sendo portadora de uma finalidade educativa:
«O CNE ajuda jovens a crescer…
…a procurar a sua própria Felicidade e a contribuir decisivamente para a dos outros.
…a descobrir e viver segundo os Valores de um verdadeiro Homem Novo. (…)
…para que com o Ser, Saber e Agir se tornem homens e mulheres responsáveis e membros ativos de comunidades, na construção de um mundo melhor.»[4]
A proposta pedagógica do Pioneiro assenta no SERVIR – síntese do próprio caminho e da sua mística, vivido em cada momento, passado a ato contínuo e consciente, permitindo a purificação do orgulho pessoal e modelador da vivência de um ideal comum.
É assim que, lenta e gradualmente, o Homem Novo nasce para os outros, para o mundo e para Deus, permitindo-se dar a Deus um Mundo Novo.
O jovem pioneiro que, no início, não conhecia bem o trilho que seguia, nem o ponto de chegada, vai, pouco a pouco, descobrindo, em fraternidade e alegria, a sua vocação, o seu lugar e a sua função no caminho da vida.
Como ponto de referência para o Pioneiro e para o seu Clã (comunidade de pioneiros), podemos relembrar as primeiras comunidades cristãs, marginalizadas e até mesmo perseguidas, mas reconhecidas na expressão do «vejam como eles se amam», nas quais S. Paulo, passada a fase de perseguidor, teve um papel preponderante na sua afirmação, ao assumir-se como um
“Pioneiro” do Evangelho, e onde a fraternidade era a pedra angular de todos os seus valores, de tal forma, que a sua expansão por todo o mundo foi apenas uma questão de tempo.
Finalmente, não poderemos deixar de referenciar esse livro vivo e maravilho que Deus nos legou: a Natureza. Lição ímpar de liberdade, respeito, organização, cooperação e de harmonia que todos devemos, não só aprender, mas, sobretudo, viver de forma que a nossa vida seja uma fraternidade natural que reflita o mais profundo da nossa razão de ser: a construção de uma ecologia integral na nossa casa comum que nos conduza a um mundo melhor.
Hoje, tal como em 1922[5], as metáforas que Baden-Powell utilizou para ilustrar os cinco escolhos da sociedade do seu tempo: Cavalos, Vinho, Mulheres, Cucos e impostores e Irreligião, mantêm-se atuais, mostram as contradições da sociedade e vincam a incerteza, gritante, no futuro.
Para combater esta quase falta de esperança, o caminheiro tem, ao seu dispor, um percurso de vida que o ajuda a encontrar os antídotos necessários, a fortalecer a sua vontade e determinação alicerçadas no sentido do Serviço, balizado pelo respeito integral de si próprio e dos outros, pelo Amor e Caridade que coloca nas suas ações e pela forma como a sua fé marca a sua vida na relação com os outros, com a comunidade e com a casa comum que a todos acolhe.
O Pioneiro, no ato de investidura, compromete-se, voluntariamente, com ele próprio e com os outros, a viver este ideal de vida e a ser um cidadão feliz, saudável e útil, guiado pela Lei e Princípios do Escotismo.
Este compromisso de honra só deve ser assumido quando os jovens se sintam preparados para se autodisciplinarem em função de uma vida de cidadania, solidariamente ativa à luz da fé que professam. Para isso, o sistema de progresso, currículo que cada um deles vai construindo em função do seu ritmo pessoal de aprendizagem, das suas aspirações e das suas necessidades, enquadrado nas seis áreas de desenvolvimento: físico, afetivo, caráter, espiritual, intelectual e social, permitir-lhe-á atingir, de forma gradativa, os objetivos educativos do Programa Educativo do Corpo Nacional de Escutas[6] e levá-lo-á a conhecer a razão de ser do Pioneirismo, como também as exigências de uma cidadania vivida de forma integral.
Só deste modo, o Caminho será um espaço e uma vida onde a arte de servir o próximo e a prática do bem, em todas as suas dimensões, terão um caráter omnipresente. O seu desejo de buscar o arquétipo de cidadania e de vivência da fé professada, levam o jovem a desenvolver, ainda que, por vezes, de forma inconsciente, o conceito de educação permanente e ao longo da vida. Na certeza que o pioneiro não é um ser perfeito, mas, tão somente, um jovem que caminha à procura da utopia da perfeição, cada vez mais perto, mas sempre inalcançável, guiado pelos nobres valores de cidadania e pela divisa de Servir, sempre e a todos em quaisquer circunstâncias.
Ser pioneiro é, afinal, saber definir a sua própria vida por aquilo que ela tem de ser, um Caminho conducente a uma preparação para o serviço público, para o serviço aos outros e para o gosto de viver, tornando-se um cidadão de “visão larga”, como diz Baden-Powell, procurando a “Grande Felicidade e não para a Grande Gamelada (…) com o desejo humilde de servir a comunidade, de colaborar no espetáculo para o bem da maioria (…). A tua recompensa não consistirá em te veres subir, mas em veres subir os que te cercam para um melhor nível de vida”[7]
Finalmente, o Caminheiro é um semeador de Esperança, pois, ao impelir a sua própria canoa, ele cria o seu destino, e, ao presenciarmos estes pequenos factos, recordamos as palavras do fundador, publicadas no número de abril de 1940, da revista The Scouter: “a maior parte dos que temos andado a lançar a semente não estaremos aqui, tendo em conta a natureza das coisas, para assistir à colheita; mas bem nos podemos sentir agradecidos, e em boa vontade rejubilantes, por a nossa seara já se encontrar tão adiantada…”
Hoje, tal como em 1922[8], as metáforas que Baden-Powell utilizou para ilustrar os cinco escolhos da sociedade do seu tempo: Cavalos, Vinho, Mulheres, Cucos e impostores e Irreligião, mantêm-se atuais, mostram as contradições da sociedade e vincam a incerteza, gritante, no futuro.
Para combater esta quase falta de esperança, o pioneiro tem, ao seu dispor, um percurso de vida que o ajuda a encontrar os antídotos necessários, a fortalecer a sua vontade e determinação alicerçadas no sentido do Serviço, balizado pelo respeito integral de si próprio e dos outros, pelo Amor e Caridade que coloca nas suas ações e pela forma como a sua fé marca a sua vida na relação com os outros, com a comunidade e com a casa comum que a todos acolhe.
O Pioneiro, no ato de investidura, compromete-se, voluntariamente, com ele próprio e com os outros, a viver este ideal de vida e a ser um cidadão feliz, saudável e útil, guiado pela Lei e Princípios do Escotismo.
Este compromisso de honra só deve ser assumido quando os jovens se sintam preparados para se autodisciplinarem em função de uma vida de cidadania, solidariamente ativa à luz da fé que professam. Para isso, o sistema de progressão, currículo que cada um deles vai construindo em função do seu ritmo pessoal de aprendizagem, das suas aspirações e das suas necessidades, enquadrado nas seis áreas de desenvolvimento: físico, afetivo, caráter, espiritual, intelectual e social, permitir-lhe-á atingir, de forma gradativa, os objetivos educativos do Programa Educativo do Corpo Nacional de Escutas[9] e levá-lo-á a conhecer a razão de ser do Pioneirismo, como também as exigências de uma cidadania vivida de forma integral.
Só deste modo, o Caminho será um espaço e uma vida onde a arte de servir o próximo e a prática do bem, em todas as suas dimensões, terão um caráter omnipresente. O seu desejo de buscar o arquétipo de cidadania e de vivência da fé professada, levam o jovem a desenvolver, ainda que, por vezes, de forma inconsciente, o conceito de educação permanente e ao longo da vida. Na certeza que o pioneiro não é um ser perfeito, mas, tão somente, um jovem que caminha à procura da utopia da perfeição, cada vez mais perto, mas sempre inalcançável, guiado pelos nobres valores de cidadania e pela divisa de Servir, sempre e a todos em quaisquer circunstâncias.
Ser pioneiro é, afinal, saber definir a sua própria vida por aquilo que ela tem de ser, um Caminho conducente a uma preparação para o serviço público, para o serviço aos outros e para o gosto de viver, tornando-se um cidadão de “visão larga”, como diz Baden-Powell, procurando a “Grande Felicidade e não para a Grande Gamelada (…) com o desejo humilde de servir a comunidade, de colaborar no espetáculo para o bem da maioria (…). A tua recompensa não consistirá em te veres subir, mas em veres subir os que te cercam para um melhor nível de vida”[10]
Finalmente, o Pioneiro é um semeador de Esperança, pois, ao impelir a sua própria canoa, ele cria o seu destino, e, ao presenciarmos estes pequenos factos, recordamos as palavras do fundador, publicadas no número de abril de 1940, da revista The Scouter: “a maior parte dos que temos andado a lançar a semente não estaremos aqui, tendo em conta a natureza das coisas, para assistir à colheita; mas bem nos podemos sentir agradecidos, e em boa vontade rejubilantes, por a nossa seara já se encontrar tão adiantada…”
CARLOS ALBERTO PEREIRA é empresário e ex presidente nacional do CNE – Corpo Nacional de Escutas, Escotismo Católico Português – residente em Braga (Portugal). Escreve uma coluna quinzenal para o jornal ‘Correio do Minho’, sobre escotismo.
[1] B.-P., A Caminho do Triunfo, C.N.E., Lisboa, 2009, 3ª edição, p.185.
[2] ibidem, p.16.
[3] ibidem, p.20, citando Sir Ernest Cassel (banqueiro, comerciante e capitalista britânico – 1852-1921).
[4] CNE, Educamos. Para quê? – Uma Proposta Educativa do Corpo Nacional de Escutas
[5] Ano em que Baden-Powell publica o livro A Caminho do Triunfo.
[6] Texto aprovado em 2009 e publicado em 2010, pelo CNE
[7] B.-P., A Caminho do Triunfo, C.N.E., Lisboa, 2009, 3ª edição, p.149.
[8] Ano em que Baden-Powell publica o livro A Caminho do Triunfo.
[9] Texto aprovado em 2009 e publicado em 2010, pelo CNE
[10] B.-P., A Caminho do Triunfo, C.N.E., Lisboa, 2009, 3ª edição, p.149.