Qual seria a forma mais simples que você resumiria Escotismo? Creio que se dissesse “Escotismo é Lei e Promessa” estaria de bom tamanho, não acha? Com esta simples frase você resumiria todo um processo educativo, rico em detalhes, que agradam jovens e adultos e que já vem sendo praticado há mais de cem anos na grande maioria dos países do mundo!
Simples assim? Não! Nada é simples tratando-se de um Movimento que nasceu quase que espontaneamente e é dirigido por voluntários. Quanto aos objetivos propostos, os resultados esperados, não restam a menor dúvida que deu certo! Realmente vem ajudando a formar bons cidadãos desde sua criação em 1907 até os dias de hoje, aliás, já foi concluído que o Escotismo é ainda mais necessário hoje do que era no século passado.
Se não restam dúvidas que ele atuava positivamente no século passado, com a civilização e desenvolvimento daquela época e continuou a educar através destes anos todos com o progresso gerado pela ciência e tecnologia e pela modificação de hábitos e costumes, alguma coisa permaneceu constante nesses anos em que praticamos e estudamos o Escotismo.
Procurando fazer com que o Movimento Escoteiro permaneça vivo e atuante, algumas mudanças foram introduzidas ao seu corpo, inclusive de imagem, buscando antecipar-se para não se tornar desatualizado. Realmente algumas foram necessárias, mais outras tantas, temos nossas dúvidas…
Entrei para o Escotismo em 1954 com onze anos de idade e posso afirmar que o garoto que não teve o privilégio de ser Escoteiro, não teve uma infância e adolescência tão divertida, preenchida pelas aventuras e desafios. Diverte-me muito, fazendo o que meu chefe mandava, cumprindo as “provas” daquela época. Levava a sério a Corte de Honra e aprendia, sem perceber, a cumprir com naturalidade a Lei e a Promessa. Permaneço ainda hoje, com 74 anos, o que me permite ter uma visão ampla do Movimento Escoteiro nesses 62 anos, em que vivi intensamente este Movimento.
Brigamos muito entre nós, agarrados aos nossos pontos de vista, afirmando que o Escotismo não é o mesmo da nossa época, que foi descaracterizado, que divertia tanto o jovem, que ele adorava seus chefes e que foi maravilhoso ser Escoteiro! Concordo plenamente, embora haja algum exagero nessa a8rmação. Fui chefe de Tropa de Escoteiros por quase trinta anos e, aos poucos, com a alteração das provas, chamadas então de “etapas” fomos mudando, conforme mudava a sociedade e, no meio disso tudo, os nossos jovens também mudavam. Nós procuramos fazer o mais parecido com o que vivenciamos, mas novas tecnologias foram aparecendo e anexadas aos hábitos de vida, como o GPS, por exemplo, mas que não nos obriga a descartar a bússola, que permite aventuras maravilhosas de um grande jogo!
Sim, os jovens estavam mudando, mas estariam se divertindo da mesma forma, com um escotismo um pouco diferente daquele que nós vivemos? Resolvemos então fazer uma sequencia de perguntas, conversando sutilmente com os jovens, sem dar conotação de teste. Isso foi feito por amostragem em alguns Grupos. Sabem o que confirmamos? Eles se divertem da mesma forma que nós nos divertimos quando éramos jovens Escoteiros!
Chegamos à conclusão que hoje, seus chefes também se preocupam com a vivência da Lei e Promessa Escoteira. Conheci um Grande Jogo que na minha época não tinha: “Escoteiros no Shoping”, poias não existia Shoping e nem a sociedade era tão dependente dele. Perguntamos sobre atividades de campo e faziam três a quatro acampamentos por semestre (a mesma quantidade que fazíamos), com uma diferença: eles vão de ônibus fretado e nós íamos de bonde, com o material empilhado na plataforma. Agora vão bem mais longe e nós íamos à Praia Paranapuã, logo após a Ponte Pencil em São Vicente/SP. Lá fazíamos quase as mesmas coisas que hoje… Admitimos que certas coisas tivessem que ser mudadas…
Partindo da premissa que o importante é a Lei e a Promessa e que o restante (acampamentos, excursões, eventos, competências, especialidades etc.) são meios para chegarmos ao objetivo final, o jovem permanecendo em um Grupo, por um tempo razoável, será naturalmente atendido em seu desenvolvimento. Desde que, o quesito divertimento esteja sendo oferecido através de boas atividades, este jovem terá a prática dos valores morais, incluso nas suas atividades escoteiras.
Agora pergunto: o que o Escotismo tem que ainda agrada a todas as idades e se mantém vivo nestes anos todos, apesar de sofrer tantas mudanças? As respostas serão muitas. Isso porque tem muitas coisas agregadas com tanta sabedoria e na proporções corretas, que não se identificaria um único fator responsável.
Talvez possamos, para facilitar, coloca-las juntas, sob o nome de Místicas & Tradições, uma característica que difere o Movimento Escoteiro de outros movimentos. São inúmeros itens, tais como o Sistema de Patrulhas, Corte de Honra, Fogo de Conselho, Bandeirola de Patrulha, Ludo educação, Atividades Técnicas, Fraternidade Mundial, os Jamborees, a Boa Ação (B.A.), a Manta do Fogo de Conselho, as Coleções de Distintivos e Lenços, o Grande Uivo e mais “um milhão de coisas”! Isto tudo tem acompanhado o Movimento desde muitos anos, algumas trazidas para o Escotismo de vários continentes pelo próprio BP.
Outras foram criadas em determinados países tendo uma abrangência menor. Intercalar os dedos mínimos quando se cumprimenta com a mão esquerda, é adotado por alguns países, por exemplo. São atos que caracterizam o Escotismo, mas devemos admitir que são menos importantes que a Lei e Promessa.
Portanto, se o objetivo final é contribuir para que o indivíduo que viveu o Escotismo quando criança e jovem tenham assimilado a Lei e Promessa como opção de vida, a forma de Escotismo que ele viveu, não é tão importante, referindo-se aos detalhes.
Com certeza não foi o mesmo Escotismo que nós vivemos, mas no final, produziu os mesmos resultados: Ofereceu divertimentos calcados nas atividades, fazendo com que ele permanecesse na Tropa, vivenciando a Lei e Promessa durante tempo suficiente para tornar-se hábito em sua vida.
Às vezes nos esquecemos de que o objetivo do Escotismo não é formar chefes escoteiros e sim, bons cidadãos! O objetivo final é o que vale e, se foi assimilado mesmo se ele não acampou três vezes por semestre, fizemos nossa parte.
Portanto, vamos nos policiar para não confrontarmos companheiros que, por qualquer razão, não praticam Escotismo igual ao que praticamos. Muitas coisas contribuem para isso: liderança, tempo, condições financeiras, comunidade, conhecimento, carisma pessoal, família, emprego, etc. etc. etc.
Às vezes criamos inimizades gratuitas nascidas de atitudes irrelevantes, que teria sido melhor para todos, se não tivéssemos interferido. Não vamos brigar se eles usam caqui ou a vestimenta, chapelão ou boina. O importante é que usem com garbo e orgulho a sua roupa de Escoteiro, enriquecendo a nossa imagem de um Movimento sério e responsável. Que a sociedade pense de nós aquilo que gostaríamos que ela pensasse.
Não se trata de “cada um faz o que quer” e sim, que não devemos criticar outros companheiros. Se existe “distorções” em algum Grupo, cabe ao Comissário Distrital corrigir. A você, meu caro irmão, cabe colocar-se à disposição para colaborar, e isto se for aceito. Sabemos que lidar com o ser humano e ainda voluntário, é dificílimo! Cada um “vê” com sua própria visão, o que nem sempre é a expressão da verdade! Zelar pela nossa imagem perante o público, foi importantíssimo no passado e hoje, mais importante ainda, pois continuamos a ser julgados pelo leigo, pela imagem que ele vê!
E, não se esqueçam de um velho ditado:
“Aos mais esclarecidos cabe o ônus da paciência”!
ELMER PESSOA é dirigente do 55º Grupo Escoteiro Morvan Dias Figueiredo, de Santos (SP).
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