Fui convidado para conduzir o fogo de conselho do Encontro do Grupo I de Gilwell de 2023 da Região Escoteira do Rio de Janeiro. Diga-se de passagem, que seria a minha primeira vez no evento, já que há anos tento comparecer, porém, sempre acontecia alguma
coisa que me impedia de participar.
Assim, para mim, foi uma grata surpresa quando abri o Whatsapp e vi a mensagem do coordenador do evento, Geraldo D’Anil, com o seguinte teor:
“Bom dia, meu Chefe! Tudo bem? Fiquei muito honrado com sua inscrição e participação no Encontro de Gilwell. Sabendo do seu grande talento em conduzir um Fogo de Conselho, gostaria de convidar para dirigir o nosso fogo no Encontro. E um outro convite: Você poderia apresentar uma oficina de canções para fogo de conselho no domingo? Duração de 60 minutos.
Fico aqui no aguardo. Um grande abraço”
Naquele momento, uma grande alegria tomou conta de mim, pois para quem não sabe, o fogo de conselho é uma cerimônia que tem um significado muito especial para muitos membros do Movimento Escoteiro, por sintetizar em canções, em poemas, em esquetes e em diversas outras manifestações todo o simbolismo da Fraternidade Mundial Escoteira. Geralmente, o fogo de conselho desperta nos participantes variados sentimentos positivos e, para mim, é uma das atividades mais importantes deixadas por Baden Powell. Eu aprecio demais.
Então, a partir de então, comecei a pensar sobre como seria essa experiência e a elaborar uma programação preliminar. Afinal de contas, não seria um fogo de conselho com os jovens da minha tropa e nem com os membros do meu próprio grupo ou distrito, gente
que já me conhece e que eu conheço bem. Na ocasião eu não sabia quem seriam os participantes, mas sabia que seria uma seleta audiência, pois tratava-se dos membros do Grupo I de Gilwell.
Cabe ressaltar que só participam dessa atividade os escotistas e dirigentes possuidores da Insígnia da Madeira, ou seja, aqueles que concluíram o nível avançado de formação, supostamente possuidores de larga experiência escoteira.
Além do mais, esse evento remonta à reunião de mesmo nome, realizada anualmente em Gilwell Park, no Reino Unido, desde os tempos de BP e acredito que temos o compromisso de fazer jus ao nome e à importância do encontro.
A minha maior preocupação era conseguir trazer, neste fogo de conselho, alguma novidade, além de despertar a emoção dos presentes, o que, na minha opinião, torna um fogo de conselho memorável. Essa era a intenção: tornar o evento inesquecível, não só para a audiência, mas para mim também.
Como conseguir isso com uma plateia que certamente já realizou ou participou de dezenas, centenas e quem sabe, milhares de fogos de conselho em sua trajetória escoteira?
De uma coisa eu estava certo: Eu não queria que fosse “mais do mesmo”.
Havia ainda um detalhe importantíssimo: como era a minha primeira participação no encontro, eu não tinha ideia de como tinha sido o evento do ano anterior, e nem dos anos anteriores. Inicialmente, tive a curiosidade de perguntar a alguém que tenha participado, mas acabei desistindo de perguntar, pois eu poderia acabar ficando condicionado a realizar algo parecido ou, pior, tentar inovar a partir do que já fizeram. Enfim, preferi não ter outras referências que não fossem as da minha própria vida escoteira. Busquei inspiração nos meus próprios caderninhos de anotações, no meu cancioneiro particular e nos momentos emocionantes que já vivi nos acampamentos do 37ºGE-RJ Fernão Dias Paes Leme. E que momentos!
Elaborar o programa de um fogo de conselho requer um conhecimento mínimo das tradições que cercam esse evento, como o acendimento da fogueira, saber algumas canções que não podem faltar, elaborar o roteiro dos esquetes e aplausos previstos a serem
apresentados pelas equipes. Porém, um fogo de conselho bem feito requer do organizador uma certa familiaridade com os participantes. Vejam bem: Como o fogo de conselho normalmente ocorre na última noite de acampamento, a cerimônia se transforma em um momento em que os participantes relembram os fatos vividos desde o início do campo, das amizades surgidas e/ou fortalecidas, do trabalho feito em conjunto, das dificuldades superadas, dos desafios vencidos. O fogo de conselho é também o momento daquele aperto no coração, por se aproximar o momento de despedida de um período (curso ou longo) vivido sob as lonas das barracas, sob as estrelas do céu e sob o sol durante a caminhada. É momento de rir e chorar, de alegria, de saudades e da esperança de nos vermos em breve, já pensando no próximo fogo de conselho que estaremos juntos. É momento de se aquecer na fogueira deixando naquelas chamas as possíveis mágoas e ressentimentos que por ventura haja.
Então, como promover esse turbilhão de sentimentos se não estamos acampamentos e quando vamos nos encontrar praticamente na hora do fogo de conselho?
Desafio aceito.
Tive acesso à relação de participantes, em torno de 25 pessoas. Então, seria um fogo de conselho mais intimista, de círculo menor e mais aconchegante. Na relação, alguns velhos amigos, outros desconhecidos. Mas comecei a desenhar na minha mente como seria
esse fogo de conselho especial.
O tema proposto pela coordenação do encontro foi uma reflexão sobre o “Código de Gilwell”, elaborado por John Turman, proeminente Chefe Escoteiro que foi o Chefe de Campo de Gilwell e que muito contribuiu para o desenvolvimento do escotismo, ainda na época de Baden Powell.
Então, elaborei uma primeira proposta de desenvolvimento do fogo de conselho, com duração média de uma hora e meia. Parece muito, mas é pouco tempo. Ou parece pouco, mas é muito tempo. Só saberíamos isso na hora.
O dia 16 de setembro de 2023 foi um dia muito intenso de atividades no 37ºGE, meu grupo de origem, pois tínhamos membros da Tropa Sênior participando do Dia Mundial de Limpeza da Terra na Praia do Flamengo e também estávamos promovendo o Mutirão
Nacional Escoteiro de Ação Comunitária, o MutCom. E como sou Diretor Presidente, estive envolvido nas duas atividades. Mas quando se tem uma equipe de escotistas atuante e comprometida, tudo fica mais fácil. Passei no grupo, participei da abertura do MutCom, dando as boas-vindas ao grupo visitante, 78ºGE e segui para o Campo Escola Geraldo Hugo Nunes, em Magé, onde seria realizado o Encontro do Grupo I de Gilwell.
Ao chegar no local, encontrei a equipe de organização na sede do Campo Escola, trabalhando a todo o vapor para que tudo estivesse pronto no horário previsto. Estava preparando o local de recepção, onde também seria realizado o jantar, o MAGÉ PUB. O local
estava especialmente decorado para o evento, com elementos importantes que poderiam transportar os participantes diretamente para cursos que realizaram em um passado longínquo ou recente. Fotos das equipes cursantes, bandeirolas, placas de patrulha, bastões, pioneirias, galhardetes. Tudo o que lembrasse os cursos básicos, intermediários, técnicos e avançados estava devidamente exposto. Tudo feito com esmero para fazer vibrar o coração de quem retorna ao Campo Escola para matar a saudades dos velhos amigos e dos dias alegres de formação. Eu mesmo encontrei uma foto minha com a turma do Curso Técnico de Fogo de Conselho, que dirigi em 2018. Lá se vão cinco anos e já bateu saudade daquela turma. Em outros quadros, pude “rever” outros amigos, que não vejo há tanto tempo. Acabei me lembrando de conversas e canções tão lindas que os olhos chegaram a marejar de saudades.
Enfim, cumprimentei a todos e engajei-me na tarefa de preparar o fogo de conselho. Com a ajuda do zelador do Campo Escola, Senhor Ronaldo, recolhemos os gravetos para o acendimento da fogueira. A lenha já estava separada na clareira destinada ao Fogo de Conselho. Montei a tradicional fogueira quadrada, tipo aquelas de São João. Não muito grande, já que o tempo de atividade seria relativamente curto e o número de participantes pequeno. Uma fogueira para este tipo de evento deve iluminar e aquecer a todos sem, no entanto, incomodar os presentes com o calor excessivo das grandes labaredas. E também para que a durabilidade do fogo coincidisse com o término da cerimônia. Então, dosamos o tamanho e a intensidade do fogo, deixando lenha reserva para a reposição. A primeira (e talvez mais importante) parte do evento já estava pronta: a fogueira. Cobrimos tudo com uma lona para o caso de uma mudança de tempo não inviabilizar o seu acendimento. Preparamos também algumas tochas, que seriam muito úteis na hora de acender o fogo.
Voltei então para a sede do Campo Escola e me juntei aos demais. Os participantes começavam a chegar e se instalava um clima de camaradagem e alegria de rever os amigos. Se aproximava a hora de celebrarmos a dedicação dos adultos voluntários, que se esmeraram para aumentar os seus conhecimentos e oferecer aos jovens um escotismo de qualidade. E foi justamente esse clima que me ajudou na hora de definir a programação final do nosso Fogo de Conselho. Sim, nosso fogo de conselho. Eu me senti apenas como um facilitador para que a nossa grande festa fosse recheada de alegria e emoção. A participação direta de cada um dos presentes era primordial para o sucesso do evento.
Como mencionei anteriormente, quem faz o fogo de conselho são os participantes, que contribuem com seus conhecimentos das tradições escoteiras, com seus talentos para a música e para o teatro. Assim, conhecendo um pouco da história escoteira de alguns dos presentes, pude convidar um por um a fazer parte da festa em torno da fogueira.
Um eu convidei para relembrar John Turman e mencionar suas contribuições para o movimento escoteiro; outro contaria uma história que aludisse a alguns dos itens do código de honra de Gilwell; outro ainda faria um esquete que nos alegrasse; convidei o Chefe Barreto (13ºGE) para me ajudar mantendo a fogueira acesa. Outros ainda se voluntariaram para cantar uma canção e alegrar o nosso fogo. E eu seria o mestre de cerimônias. Assim foi montado o nosso fogo de conselho: em equipe, como deve ser.
Após o jantar, iniciamos então o deslocamento para a clareira do Fogo de Conselho. Era chegada a hora. E tudo estava pronto.
O que aconteceria?
Seria um momento agradável?
Será que alcançaríamos o nível de alegria e emoção que eu estava sonhando como
dirigente de Fogo de Conselho?
Será que as expectativas dos presentes seriam alcançadas?
Confesso, eu estava nervoso. Parecia um pouco com aquele momento em que o ator se prepara para entrar no palco para mais um espetáculo. Frio na barriga. Mãos trêmulas segurando o roteiro. Essa emoção me acompanha há muitos anos, pois a cada fogo de
conselho eu sou tomado por um sentimento inexplicável. Um misto de alegria, incertezas, certezas, saudades, lembranças de momentos semelhantes vividos anteriormente.
Mas não é possível retornar.
O Fogo de Conselho tem que começar.
Todos estão conversando aleatoriamente, sentados nos troncos da clareira do
fogo de conselho, já esperando pelo início da cerimônia. Cheguei a escutar um assovio de
alguém mais ansioso que entoava um: Começa! Começa! Começa!
Eu sempre começo o fogo de conselho sem avisar que começou. Sem pedir silêncio.
Com um jeito cerimonioso, sob a luz de uma lanterna, já que o local estava na mais completa escuridão, iniciei de repente a leitura de um trecho do livro Guia do Escoteiro, do Velho Lobo, 3ª Edição, 1925, página 416 que dizia.
“O Chefe – Como chefe da tropa, é a alma de todo o movimento. Sem o seu entusiasmo, sem a sua iniciativa, sem a sua fé comunicativa, nada far-se-á. Deve ser jovem ainda, de boa moral, bom caráter, que goste dos exercícios e da vida ao ar livre, que seja amigo das crianças e interessado nos trabalhos de educação.”
E o silêncio se fez. O Fogo de Conselho começou.
Fiz uma abertura contando a todos da satisfação que era para mim estar dirigindo um fogo de conselho nesta primeira vez que eu estava participando do Encontro do Grupo I de Gilwell. Disse que para mim, o fogo de conselho é um momento especial, em que velhos (e novos) amigos se reúnem em torno da fogueira para compartilhar momentos de alegria. Hora de relembrar os dias de acampamento já vividos. Ressaltei que cada um dos presentes talvez estivesse sentindo a mesma emoção que eu, por relembrar seus antigos acampamentos, amigos que se foram ao longo dos anos. Era oportunidade, dizia eu, de renovarmos juntos as esperanças de muitos e muitos momentos como este no futuro. Tempo de imaginar que em muitos outros lugares do Brasil e do mundo estariam acontecendo fogos de conselhos semelhantes ao nosso e, por isso, estaríamos unidos por este laço da grande fraternidade mundial escoteira. Creio que com essas palavras, todos puderam entrar no clima do fogo de conselho e se doar para que a nossa noite se tornasse memorável, meu objetivo principal.
Convidei então o Chefe Geraldo D’Anil, coordenador do encontro, que saudou a todos os presentes, aludindo ao tema do fogo de conselho, “O Código de Gilwell”, de John Turman. Contou-nos ele um pouco da história dessa figura tão importante para o movimento
escoteiro.
“John Turman é um escotista mundialmente famoso e com uma atuação bastante notável em favor do escotismo. Thurman era britânico, e foi condecorado com o “Bronze Wolf”, mais alta comenda do Movimento Escoteiro. Também assumiu o cargo de Chefe de Campo em Gilwell Park entre os anos de 1943 e 1969, tendo se destacado nesta função. Hoje em Gilwell existe um auditório que leva seu nome. Jonh Thurman foi bastante conhecido basicamente por duas razões: a 1ª delas é porque foi dele a ideia de separar o esquema de formação da Insígnia da Madeira em duas partes, a primeira conhecida como formação básica (onde o adulto recebe
o Arganel de Gilwell) e a segunda conhecida como formação avançada (onde o adulto recebe o lenço e o colar da Insígnia da Madeira). A 2ª é porque ele era um excelente escritor, tendo redigido as famosas publicações técnicas conhecidas como “Gilcraft”.
Após sua fala, o fogo de conselho foi oficialmente iniciado.
Para o acendimento da fogueira, foi conduzida a cerimônia das tochas, que simbolicamente viriam das direções Norte, Sul, Leste e Oeste, representando todos os Arilson de Oliveira Silva – 37ºGE-RJ escoteiros de todos os lugares do mundo, que neste momento também estariam realizando seus fogos de conselho.
A título de esclarecimento, o fogo de conselho não é uma cerimônia mística ou religiosa, e nem deve ser encarada como tal, mas trata-se de uma tradição trazida por Baden Powell para o escotismo, tendo origem nas tribos e nos povos africanos e indianos por onde
BP passou. Trata-se de uma reunião de amigos em torno da fogueira, para contar suas histórias familiares, histórias de batalhas e aventuras. Por meio dessas reuniões, as histórias eram passadas de geração para geração, e as tradições eram mantidas por muitos e muitos anos. Isso acontece no escotismo.
Dessa forma, anunciei que o fogo seria aceso por meio de chamas enviadas de todos os cantos do mundo. E representando o fogo do norte, o Chefe Cesar (31ºGE) acendeu e trouxe a tocha para próximo da fogueira. O fogo do sul foi conduzido pela Chefe Carol
(22ºGE). Para acender a tocha que representava o fogo do Leste, o Chefe César encaminhouse até o Chefe Adenir (53ºGE) e acendeu a tocha. Então, ambos se aproximaram da fogueira. E finalmente, para acender a tocha que representava o fogo do oeste, a chefe Carol foi até a Chefe Valquíria (57ºGE) e quando todos estavam próximos à fogueira, ela foi acesa e iluminou a nossa clareira, momento em que foi cantada a canção: Brilha a fogueira. E a fogueira brilhou!
“Brilha fogueira ao pé do acampamento
Para a alegria não há melhor momento
Velhos amigos não perdem ocasião
De reunidos cantar uma canção, hey!
Stodola Stodola Stodola pumpa
Stodola pumpa Stodola
Stodola Stodola Stodola pumpa
Stodola pumpa pumpa pum!
No acampamento que faz o escoteiro?
Muito trabalha durante o dia inteiro.
Mas quando a noite já trouxe a escuridão
Acende um fogo e canta uma canção, hey!
E como estávamos no nosso Gilwell, nada melhor do que cantar a Canção de Gilwell. A Chefe Jaqueline (175ºGEAR) foi convidada e iniciou a canção brilhantemente, sendo acompanhada por cada ramo que era mencionado na roda. E que alegria ver a confraternização dos presentes quando o seu ramo era chamado.
Eu era um bom lobo, um bom lobo de lei
Não estou mais lobando, o que fazer não sei
Me sinto velho e fraco, não sei mais lobar
Logo a Gilwell assim que eu possa vou voltar
Volto a Gilwell, terra boa,
Lá um curso assim que eu possa, vou tomar
(substituir lobos, escoteiros, seniores, pioneiros, dirigentes, formadores)
Após essa bela canção, todos aplaudiram espontaneamente. Mas, como mestre de cerimônia, resolvi puxar uma palma chamada “Porteira e foguete”. Segue a explicação: Quanto eu dizia assim: “A porteira abriu”, os presentes faziam um gesto com o braço, abrindo a porteira e dizendo: uhennnnnn (emitindo o som de uma dobradiça sem óleo). Quando eu dizia: “Fechou!”, todos voltavam o braço e batiam uma palma, dizendo:
“Bum!”
Quando eu dizia: “O foguete subiu”, todos levantam os dois braços, fazendo o som: Shhhhhhiiiiiiii
Quando eu dizia: “Explodiu”, todos abriam os braços para o alto e diziam: “Bum!”
Quem dirige a brincadeira comanda com a voz e faz os gestos para exemplificar e
treinar. Em um dado momento, ele não fala mais nada e só faz os gestos. E os presentes
continuam fazendo os gestos e os sons.
Ficou uma brincadeira bem legal e animada e todos se divertiram.
Seguindo o programa do nosso fogo de conselho, para exercitar coordenação motora, propus uma canção que aprendi no Canal do Ricardo Pena no Youtube (55) Ateliê sobre animação de Fogos de Conselho – YouTube. Foi uma experiência interessante. Rimos a
valer ao tentarmos repetir os gestos que incluem palmas na perna, palmas no ombro e estalar de dedos. É uma atividade que recomendo para ensinar às crianças. E a letra é bem fácil. Os gestos, só vendo o vídeo ou relembrando da nossa roda.
Dam dam – diri diri – dam dam
Diri diri dam dam
Diri di dam
Para pa pa
Um dos itens do Código de Gilwell, de John Turman, fala sobre a amizade, impelindo os formadores escoteiros a valorizarem este sentimento:
Oferecer uma verdadeira “AMIZADE” a todos os dirigentes que vem adestrar-se. Nós vamos passar para eles a experiência que temos acumulada ao longo de nossa vida escoteira. A amizade é também confiança, é acreditar que são tão capazes como nós mesmos; e encontraremos muitos que serão mais capazes do que nós. Qualquer processo de ensinamento, a aprendizagem fica mais fácil onde existe um clima de amizade.
Para refletirmos sobre este sentimento de amizade durante o nosso fogo de conselho, convidei a Chefe Milene (76ºGE), que em sua fala, mencionou o grande bem que o escotismo proporcionou à sua família, inicialmente por meio do seu filho e depois para ela.
Segue o relato:
“Coloquei meu filho no escotismo antes que ele completasse 7 anos. Era muito agitado, com sintomas de hiperatividade. Ele participava de várias atividades físicas e intelectuais em paralelo, mas onde se encontrou, foi no Movimento Escoteiro. Aos poucos, fui me encantando com as mudanças visíveis em seu comportamento e formação de caráter. Pensei: “Já que fez bem ao meu filho, também quero fazer bem a filhos de outras pessoas”. Bom, comecei como mãe de apoio, e logo fiz minha promessa como chefe, e fui ser assistente de Alcateia. As coisas foram muito rápidas, e fui fazendo os cursos, um atrás do outro. O assunto me interessou a tal ponto que eu não parava de estudar. A minha empolgação, e o desenvolvimento do meu filho contagiou também meu marido, que foi o próximo a fazer sua Promessa.
No Movimento Escoteiro descobri que podemos não só mudar o mundo, mas também fazer amigos, fazer irmãos. Coleciono pessoas queridas nestes meus 10 anos de Promessa. Nesse período, continuei a fazer os cursos e acabei me tornando dirigente regional, depois representante nacional, e formadora. Meu marido também conheceu pessoas muito importantes na vida dele, mas o mais gratificante é ver nosso filho crescer com seus irmãos de lenço. Amigos que vão o acompanhar para toda a sua vida. Hoje, prestes a completar 18 anos, sei que formei um jovem consciente, e que sabe escolher quem quer que esteja a seu lado. E são sempre os amigos que conheceu no ME. É lindo de ver, e como mãe, sou muito grata a tudo o que aprendemos e vivemos aqui. O sentimento e a amizade que nos une não são comuns de se ver por aí. Que bom que viemos para o escotismo! Que bom que estamos aqui!”
Os aplausos foram efusivos. Mas resolvi puxar uma palma gaúcha, com a dança da chula. Não sei se conseguirei transcrever, mas a explicação é a seguinte. Coloca-se um bastão no chão. Chama-se um cavalheiro e uma dama da roda, que representarão o gaudério e a
prenda. Enquanto a prenda dança balançando o seu vestido, o gaudério galanteador dança a chula, sapateando em torno do bastão, fazendo uma reverência a esta dama, encerrando com um a bela saudação ao final das palmas, bradando: Tchê!
O ritmo das palmas é bem marcado, conforme abaixo:
Tan-tan-ran taran tan tan
Tan-tan-ran taran tan tan
Tan-tan-ran taran
Tan-tan-ran taran
Tan-tan-ran taran tan tan
Ainda nesse sentimento de amizade, convidei os presentes a cantarem uma canção que ilustra muito bem a força que uma amizade verdadeira pode oferecer. A letra da música expressa isso.
Quanto mais juntos estamos,
mais juntos, mais juntos
Quanto mais juntos estamos,
mais juntos estaremos
O meu amigo é seu amigo,
o seu amigo é meu amigo
Quanto mais juntos estamos,
mais juntos estaremos
Maaaaaais juntos
(canta-se a canção de mãos dadas, em círculo. No momento em que se canta o “maaaaaais juntos”, salta-se para frente, diminuindo o círculo)
Para alegrar ainda mais a nossa “festa” convidei o chefe Geraldo D’Anil (77ºGE) para cantar uma canção que eu aprendi com ele em um passado distante, numa atividade que era realizada na nossa região, o Camporee Chefes, que até hoje faz parte do meu cancioneiro
pessoal. Que maravilha poder ouvi-la de novo na voz e nos gestos dele. O original é sempre melhor que a imitação.
Tengo una vaca lechera
No es una vaca cualquiera
Me da leche merengada
Ay! que vaca tan salada
Tolón, tolón, tolón, tolón
Un cencerro le he comprado
Y a mi vaca le ha gustado
Se pasea por el prado
Mata moscas con el rabo
Tolón, tolón, Tolón, tolón
Qué felices viviremos
Cuando vuelvas a mi lado
Con sus quesos, con tus besos
Los tres juntos ¡qué ilusión!
(fique atento as variações do sino da vaca na hora de fazer a coreografia)
Após essa bela canção e coreografia empolgante, continuamos revisitando o tema do nosso fogo de conselho, rememorando o valor do exemplo no ensino do método escoteiro, mencionado por John Turman:
O “EXEMPLO” é muito importante, e é necessário vivenciar o que pretendemos ensinar aos outros. Se acreditamos em escotismo, vamos vivenciá-lo e assim ensinaremos não somente com palavras e sim com ações, atitudes, forma de atuar, entre outros. Ou seja, ensinaremos com o exemplo. As palavras são levadas pelo vento. Se queremos ter, viva a promessa, vamos vivenciá-la primeiro; se queremos que a irmandade escoteira seja um feito, vamos praticá-la primeiro, não digamos uma coisa e façamos outra.
Nesse sentido, convidei a Chefe Aline Faia (59º) para nos brindar com uma canção muito marcante do movimento escoteiro, que se refere ao nosso Fundador, BP, em quem nos inspiramos, levamos adiante os ideais do movimento que ele criou e que mesmo depois de 100 anos de criação, continua atual e sendo exemplo para todos nós.
De BP trago o espírito.
Sempre na mente (3x)
De BP trago o espírito.
Sempre na mente,
sempre na mente estará.
De BP trago o espírito.
No coração (3x)
De BP trago o espírito.
No coração, no coração estará.
De BP trago o espírito.
Junto de mim (3x)
De BP trago o espírito.
Junto de mim, junto de mim estará.
De BP trago o espírito.
Sempre na mente, no coração, junto de mim.
De BP trago o espírito.
Sempre na mente, no coração,
junto de mim estará…
Para refletir mais um dos itens do Código de Gilwell, trazemos à baila a necessidade do senso de humor que deve permear as relações entre os adultos voluntários do movimento escoteiro, sobretudo quando em formação.
Temos que ter “SENSO DE HUMOR”. O treinamento para ser efetivo, deve ser agradável, temos que eliminar o que nos está chateando, por isso um formador deve saber superar os momentos difíceis que amargam a sua vida. O sentido do humor nos fará rir de nós mesmos e das dificuldades. Nos fará apresentar o treinamento em um ambiente agradável
E nada melhor em um fogo de conselho do que um bom esquete pastelão para nos lembrar de termos sempre bom humor. Sabe aquele antigo grupo de humor, os Trapalhões? Quando eu era membro juvenil, nos anos 80, um esquete que sempre fazia sucesso era aquele da “Abelhinha quero mel”. O mais esperto do grupo, o Didi, pregava peça em seus amigos, dizendo que se eles falassem essa frase (abelhinha quero mel), ele iria dar um docinho. Mas quando eles diziam a bendita frase, ele assoprava água neles. Mas no final
ele se dava mal, pois o Dedé sempre sacava as suas armações e revidava. Participaram da encenação César (31ºGE), Paulo (22ºGE) e Jaqueline (175ºSA), além de mim, que foi quem se deu mal no final. Recebi um balde d’agua na cabeça. Mas tudo bem. Tudo pela arte!
Emendando uma canção logo após o esquete, o Chefe César (31ºGE) foi convidado a montar uma banda musical com os participantes. Numa brincadeira com voz e gestos, todos embalaram a canção do Pa-tim. A explicação é a seguinte:
Ao balançar os braços como um maestro, os presentes cantam patim-patim-patim. Quando ele abaixa o braço vigorosamente, todos cantam Tim. E o ritmo da música é dado pelo gestual do maestro. Ficou uma banda incrível, com ênfase na coordenação vocal com os gestos do regente, chefe César.
Ainda no ritmo das canções, foram convidadas as chefes Denise (76ºGE) Angélica (123ºGEMar) e Valquíria (57 ºGE) para animarem o nosso fogo de conselho com a canção de Kaá. Esse “Trio Ternura” nos brindou com uma versão completa dessa canção, que normalmente cantamos só a primeira parte.
Kaa, Kaa, eu vim te perguntar
– Como é que a cobra sobe num pezinho de limão?
Se a cobra não tem pé, se a cobra não tem mão,
– como é que a cobra sobe num pezinho de limão?
– Estica, encolhe, seu corpo é todo mole,
é assim que a cobra sobe num pezinho de limão.
Kaa, Kaa, eu vim te perguntar
– Como é que uma serpente faz pra se alimentar?
– Eu olho nos olhos pra hipnotizar,
depois eu dou o bote e está feito o meu jantar.
Kaa, Kaa, eu vim te perguntar
– Porque de tempo em tempo a sua pele vai trocar?
– Eu ando, me arrasto, o sol é de rachar
A casca fica velha, é preciso renovar.
Kaa, Kaa, eu vim te perguntar
Você irá conosco para o Mowgli resgatar?
Minhoca amarela? Banguela?!? Deixa estar!
Aqueles Bandar-Iog ainda hão de me pagar!
Então com a minha ajuda, vocês podem contar.
E nesse ritmo das canções com temas animalescos, o Chefe Geraldo (77ºGE) foi convidado a nos ensinar a nova versão para a música do Cão, “aquele que foi à cozinha e o prato quebrou”.
O cão foi à cozinha
E o prato ele quebrou
O cozinheiro viu
E o cão ele pegou
Vieram as galinhas
E bicaram o cão
Num bilhete escreveu
a seguinte inscrição, ponto.
“aqui bicamos o cão
Que o cozinheiro pegou
Sabe por que ele fez isso?
Foi o prato que o cão quebrou!”
(durante a canção fazem-se os gestos:
O cão – com as mãos como orelhas na cabeça;
na cozinha – como se estivesse mexendo o caldeirão;
o prato – com as mãos em arco a frente do corpo;
ele quebrou – bate-se o “prato” no joelho.
Aproveitando esse momento de atualização das canções, em nome do politicamente correto, logo após a canção do Cão, cantei a História de Johny Furacão, com um final mais positivo. Em vez de morrer, Johnny venceu!
Esta é a história de Johnny Furação
Um cara que na vida desejou ser campeão
Vivia alimentando esse desejo profundo
Ele queira ser sempre o melhor do mundo
Junto dinheiro, o ano inteiro
Jhonny então conseguiu comprar um carro
E vai participar de uma prova gigante
Esta é sua chance de se tornar importante
Começa a treinar, e a se destacar
Afinal chegou o grande dia
Jhonny irradia de tanta alegria
Ta tudo pronto, não falta nada
Só a vitória e o beijo da namorada
E a corrida acabou de começar
Jhonny disparado está em primeiro lugar
Jhonny está na frente, com seu carro é diferente
Jhonny vai ganhar, não há como parar
Jhonny está pensando no que vai dizer
Não pode aparecer chorando na TV
Quando o carro passa na curva principal
Jhonny venceu! Jhonny venceu!
Ele é o maioral
Nessa parte do fogo de conselho, as canções animadas fizeram-se presentes, aumentando ainda mais o clima de alegria e diversão da nossa confraternização. Aproveitei para ensinar uma canção que aprendi com o meu amigo Ednilson (99ºGE) em um dos cursos
escoteiros que fizemos juntos. E esta é uma das minhas preferidas. A canção nos leva para os anos 50/60, época de Elvis Presley e Cely Campelo. A letra é a seguinte:
Eu tive uma ideia legal (pã-rã-rã-rã)
Pra todo mundo cantar junto (pã-rã-rã-rã)
A de fazer um tremendo vocal (botar a boca no mundo)
Quem canta seus males espanta e encanta
A cada canto que cantar
Cantando, canto na hora do riso e do pranto
O importante é cantar
Cantando uapa-pa-ru-apa
Pa-ra-ra ra-rua-pa-pa-rua-pa
Pa-ra-ra ra-rua-pa-pa-rua-pa
Bom-bom, bom, borombombom
Bom-bom, bom, borombombom
O segredo para que esta canção envolva os participantes é o gestual e a coreografia. Basta dançar o Rock dos anos 50/60 que vai funcionar.
Após essa canção de ritmo quente, convidei o Chefe Barreto (13ºGE) para nos ajudar a refletir outro item do Código de Gilwell, relativo às tradições:
A “TRADIÇÃO” de um bom servidor, é um bom mestre, é um bom guia. O treinamento é o guardião das tradições, mais esta deve ser ferramenta do escotismo e não seu empecilho. A tradição é o passado que nos impulsiona a servir melhor, a superar-nos, a atualizar-nos. A tradição não deve ser um empecilho, “porque antes se fazia assim” a base para o trabalho com o espírito de ontem ou de hoje é como ela nos pode ajudar hoje, ou melhor no futuro. Essa é uma reflexão sobre alguns pontos que podem nos ajudar a superar dificuldades como formadores, se o tivermos sempre na mente, a cada dia e sobretudo quando atuarmos como formadores.
E ele nos trouxe a bela história da Canção Guin-Gan-Guli, criada por BP. Eis a história:
Ging Gang Goolie é uma canção conhecida e cantada em todo o mundo, que foi inventada por Baden-Powell por ocasião do primeiro Jamboree Mundial. Ela foi inventada para que todos pudessem cantá-la, daí não ser escrita em nenhuma língua, o que a torna bastante divertida.
– A história por trás desta canção foi criada mais tarde…
Numa escura e longínqua selva Africana existe uma lenda que conta a história do “Fantasma do Grande Elefante Cinzento”. Todos os anos após a época das grandes chuvas, o fantasma do elefante surgia da bruma pela madrugada e vagueava pela selva. Quando chegava a uma aldeia parava, levantava a tromba e cheirava… “func”! Depois decidia se atravessava a aldeia ou se a contornava. E, se ele atravessasse a aldeia, significava que o ano ia ser mau, haveria fome, doenças e as colheitas seriam péssimas devido à seca, pestes ou quaisquer outras desgraças; mas se pelo contrário ele contorna-se a aldeia, significava que o ano seria próspero.
A aldeia de Wat-Cha tinha sido atravessada pelo fantasma durante três anos consecutivos e as coisas começavam a ficar realmente más para os habitantes. O chefe da aldeia, Ging-Gang, e o feiticeiro, Sheyla, estavam bastante preocupados, uma vez que o dia do elefante estava de novo a aproximar-se. Juntos decidiram que era preciso fazer alguma coisa para que o fantasma não voltasse a atravessar a aldeia. Os guerreiros da aldeia, que eram homens grandes como hipopótamos rechonchudos, usavam um escudo e uma lança e decidiram que se iriam colocar no caminho do elefante para o assustarem, fazendo barulho com as suas lanças e escudos. Por sua vez, os discípulos de Sheyla iriam fazer magia para afastar o elefante agitando os seus bastões mágicos. Estes bastões tinham pendurados diversos enfeites e ao abaná-los faziam barulho… shalliwalli, shalliwalli, shalliwalli!
Finalmente o dia da visita do elefante cinzento chegou! Muito cedo, os habitantes levantaram-se e reuniram-se à porta da aldeia. De um lado estava Ging-Gang e os seus guerreiros, do outro estava Sheyla e os seus discípulos. Enquanto esperavam a chegada do fantasma, os guerreiros começaram a cantar baixinho os feitos heróicos do seu chefe… Ging gang goolie, goolie, goolie, goolie, watcha, Ging gang, goo, Ging Gang goo… Os discípulos de Sheyla não quiseram ficar para trás e começaram também a cantar… Heyla, Heyla Sheyla, Heyla sheyla Heyla ho, Heyla, Heyla sheyla, Heyla sheyla Heyla ho… E ao mesmo tempo abanavam os seus bastões… Shalliwalli, shalliwalli, shalliwalli.
De repente surgiu da névoa o fantasma do grande elefante cinzento que ouvindo os cantos levantou a tromba e respondeu oompa, oompa, oompa… À medida que o elefante se aproximava, os guerreiros começaram a cantar mais alto e a fazer barulho com as suas lanças a bater nos escudos… Ging gang goolie, goolie, goolie, goolie, watcha, Ging gang, goo, Ging Gang goo… Os discípulos de Sheyla
levantaram-se e começaram a sua magia… Heyla, Heyla sheyla, Heyla sheyla Heyla ho, Heyla, Heyla sheyla, Heyla sheyla Heyla ho… E ao mesmo tempo abanavam os seus bastões… Shalliwalli, shalliwalli, shalliwalli. Impressionado com tanto barulho o elefante começou a dar à volta a aldeia continuando a berrar… Oompa, oompa, oompa…
Houve grande alegria entre os habitantes e todos juntos começaram a cantar… Ging gang, goolie…
Para cantar esta música no teu grupo, seção, patrulha basta que o dividas em dois grupos: um deles corresponde aos guerreiros de Ging Gang e o outro aos discípulos de Sheyla. Estes devem cantar a sua parte, respectivamente, de forma alternada quando surgir o elefante; o qual é interpretado pelos chefes, que cantam continuamente oompa, oompa, oompa… Enquanto se dirigem aos guerreiros e aos discípulos. Posteriormente, o elefante deve desafiar os grupos cantando mais alto, os quais não se devem deixar vencer, começando, também, a cantar cada vez mais alto!
Guin-gan-guli, guli, guli, guli, Uatcha
Guin-gan-gu, Guin-gan-gu
Guin-gan-guli, guli, guli, guli, Uatcha,
Guin-gan-gu, Guin-gan-gu
Ei-la, ei-la sheila, Ei-la sheila, ei-la ô
Ei-la, ei-la sheila, Ei-la sheila, ei-la ô
Xali Gulixali Gulixali Gulixali Gulixali
Umpa, umpa, umpa, umpa
Guin-gan-guli, guli, guli, guli, Uápa,
Guin-gan-gu, Guin-gan-gu
Guin-gan-guli, guli, guli, guli, Uápa,
Guin-gan-gu, Guin-gan-gu
Ei-la, ei-la sheila, Ei-la sheila, ei-la ô
Ei-la, ei-la sheila, Ei-la sheila, ei-la ô
Já se aproximava a hora do encerramento, e passou tão rápido.
Comecei então a trazer o grupo para um momento de reflexão quando contei um pouco da minha trajetória no movimento escoteiro. Relatei que ingressei no movimento de 1981 e desde então o escotismo tem impactado demais a minha vida, tanto pessoal, como
profissional. Resumidamente, destaquei o exemplo do meu Chefe e fundador do 37ºGE Fernão Dias Paes Leme, Baltazar Paulino Ribeiro, falecido em 2013. Ele deixou um legado de amor ao escotismo, tendo atendido a milhares de jovens durante a sua permanência no grupo e ainda hoje, mesmo após a sua morte, o seu sonho de um grupo escoteiro na comunidade de
São Bento continua mais vivo do que nunca. Nosso grupo completará 60 anos de existência em 2024 e ele sempre será lembrado como alguém que levou o escotismo ao maior número de jovens que ele pode. Disse ainda que a minha presença nesse encontro é, para mim, um privilégio e que estar entre os companheiros de jornada fortalece ainda mais a minha vontade de ajudar o próximo.
Como eu tenho excelentes lembranças do Chefe Paulino e de outros chefes que me ajudaram na minha trajetória, creio que cada um dos presentes também tem alguém do escotismo para se lembrar como um exemplo positivo. Então, propus aos companheiros que
quisessem, que mencionassem os nomes de pessoas que fizeram a diferença no escotismo do Rio de Janeiro e do Brasil, e sobretudo, que impactaram suas vidas, no convívio das atividades, acampamentos e eventos escoteiros diversos. Relembrei do Chefe Renato Conde, falecido recentemente e que muito contribuiu para o desenvolvimento do escotismo brasileiro, deixando um importante legado de formação de cidadãos úteis à sociedade.
Muitos outros nomes foram lembrados e homenageados em falas emocionadas e emocionantes, demonstrando o quão vasto é o alcance do movimento escoteiro na sociedade.
Foi então convidada a Chefe Dilce (16ºGE) e o Chefe Alaildo (16ºGE) para as palavras de encerramento do nosso encontro. A chefe Dilce é a coordenadora da Equipe de Formação da Região RJ e o Chefe Alaildo, o IM mais antigo presente, os quais expressaram a
sua satisfação em ter participado de um Fogo de Conselho que emocionou e envolveu a todos neste clima de camaradagem, revelando uma característica dos membros do grupo I de Gilwell. A chefe Dilce relembrou a tradição do “Graveto”, em que cada um dos presentes, apanha um graveto ou palha e joga na fogueira, simbolizando as mágoas e coisas ruins que tenham ocorrido no último ano, renovando as esperanças de dias melhores e da motivação para seguir em frente.
Após a fala dos nossos baluartes e naquele clima de “não queremos que acabe”, entoei a canção “Quero ficar aqui” e convidei a todos a me acompanharem nessa canção que retrata a alegria de todos em estarmos juntos.
Quero ficar aqui, mais um pouquinho só
Mais um pouquinho com você
A noite vem eu sei, não quero crer que vou
Para bem longe de você
Por isso eu canto assim,
que é pra alegrar o adeus
E essa amizade não ter fim
Então, para finalizar nosso Fogo de Conselho, fizemos uma cadeia da fraternidade em torno da fogueira que já estava em brasa, aquecendo os nossos corações, com a certeza de que velhas amizades foram fortalecidas, novas amizades iniciadas, demonstrando que os valores do escotismo continuam muito presentes na vida dos adultos voluntários, que abnegadamente se dedicam ao desenvolvimento do Movimento Escoteiro no Brasil e no mundo. E então, cantamos a Canção da Despedida.
Por que perder as esperanças, de nos tornar a ver?
Por que perder as esperanças, se há tanto querer?
Refrão
Não é mais que um até logo, não é mais que um breve adeus
Bem cedo junto ao fogo tornaremos a nos ver
Com nossas mãos entrelaçadas, ao redor do calor
Formemos esta noite, um círculo de amor
Refrão
Pois o Senhor que nos protege e nos vai abençoar
Um dia, certamente, vai de novo nos juntar
Refrão
Sonorizando a melodia, sem canto
(durante a sonorização, um dos elementos da
roda recita a Promessa Escoteira. Opcionalmente,
pode-se fazer uma reflexão, uma oração, dizer
palavras inspiracionais, agradecer, etc)
Como um “pós créditos”, a fim de que cada equipe saísse do círculo organizadamente, foi entoada a canção “Boa noite, Touros”, de maneira que ao ser chamado, o grupo correspondente era autorizado a sair do círculo e seguir para as suas barracas:
Boa noite, Touros (2x)
Agora vamos dormir (2x)
Bem alegres vamos indo,
Vamos indo, vamos indo
Bem alegres vamos indo para descansar
(No lugar de Touros, coloca-se o nome de cada uma das patrulhas, seções, frações, pessoas presentes)
E de uma forma alegre e envolvente, nosso fogo de conselho foi encerrado, deixando nos corações de cada um dos participantes a certeza de que o nosso movimento tem belas tradições, as quais devem ser mantidas e repassadas para os nossos jovens, a fim
de que se mantenham vivas e atuais.
Por meio desse relato, compartilho com o os leitores esta belíssima experiência de conduzir o Fogo de Conselho do Encontro do Grupo I de Gilwell de 2023, da Região do Rio de Janeiro, no qual tentei transmitir, em palavras, a emoção que todos vivemos naquela clareira
do Campo Escola Geraldo Hugo Nunes, em Magé, na noite de 16 de setembro de 2023, durante uma hora e meia de evento. Aquele primeiro momento de nervosismo e ansiedade na iminência de enfrentar este grande desafio, relatado no início desse texto, foi substituído por um sentimento de amor e de pertencimento a uma família que inexplicavelmente nos abraça onde quer que estejamos e do jeito que estejamos. E chego à conclusão de que um bom fogo de conselho se faz com pessoas que se encontram em sintonia, buscando os mesmos objetivos e que, mesmo divergindo, conseguem focar nos pontos que nos unem e não nos que nos separam.
Agradeço imensamente ao Chefe Geraldo D’Anil pela gentileza do convite e por todos os ensinamentos que me passou durante os cursos e encontros e também por seu exemplo pessoal em diversas iniciativas que presenciei e acompanhei.
Foi memorável… inesquecível!
Sempre Alerta.
Arilson de Oliveira Silva
37º GE-RJ Fernão Dias Paes Leme
Duque de Caxias, RJ
17/09/2023
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