RETORNOU AO GRANDE ACAMPAMENTO o chefe Luiz Paulo Carneiro Maia, um expoente da Formação de Adultos no Escotismo. Nascido em 31/08/1944, no Rio de Janeiro, ingressando no escotismo pouco antes de completar 10 anos de idade, como Lobinho, foi Escoteiro, Sênior e Pioneiro passando a chefe e dirigente.
Como membro adulto participou do 1ºGE João Ribeiro dos Santos atuando como Assistente e Chefe de Lobinhos, Chefe Sênior e Chefe de Grupo (1969/1974 e 1982/1986), licenciando-se do grupo entre 1986 e 1989, quando retornou para o 76ºGE Nossa Senhora do Medianeira, onde atuou como Chefe Sênior e Chefe de Grupo (1994/1996). Profissionalmente se tornou professor e psicólogo, o que contribuiu muito com suas atividades do escotismo. Conquistou três Insígnias de Madeira, sendo elas a do Ramo Lobinho (12/04/1965), homologada por Agnes Gabriela Milley, do Ramo Escoteiro (10/06/1969), homologada por João Fernandes de Brito, e do Ramo Sênior (30/07/1973), homologada por João Ribeiro dos Santos.
Atuou como Comissário Regional da UEB-RJ de 1974 a 1975, e, 1981 à 1983, cargo equivalente ao atual Diretor Técnico Regional (ou Diretor de Métodos Educativos). Foi um dos primeiros Comissários Nacionais de Programa, atuando de 1977 à 1980, ocasião em que criou CAB-MAR, um curso voltado para a elaboração de reuniões das atividades de Grupos de Escoteiros do Mar, e foi um dos 4 escritores do Guia do Escoteiro Noviço, Guia do Escoteiro de 2ª Classe e Guia do Escoteiro de 1ª Classe que vigoraram até o fim dos anos 90. Coordenação dos dois primeiros Seminários Nacionais de Programa da UEB.
No âmbito da Formação de Adultos, foi membro da Equipe Nacional de Formação sendo DCB (de 1968 à 1974), DCIM (de 1974 à 1986 e de 1995 à 2001), Assistente Regional de Adestramento da UEB/RJ em diversas oportunidades (1975-1978, 1980-1981, 1983-1986, 1995-1998), Dirigiu inúmeros cursos escoteiros, destacando-se como C.IM Lobinho (1979, 1980), C.IM Escoteiro (1980, 1981, 1984, 1997), C.IM Sênior (1975, 1976, 1984, 1997), C.IM Sênior (1975) realizado em Magé (RJ), simultâneo ao I C.IM Escoteiro, dirigido por André Pereira Leite, II C.IM Sênior (1976) realizado em Porto Alegre (RS), C.IM Chefe de Grupo (1982), C.IM Dirigente Institucional (1998) e C.IM Dirigente de Formação (2000). Participou da Comissão Interamericana de Programa (1978, México), da 27ª Conferência Mundial Escoteira (1979, Inglaterra, como delegado), época em que foi membro da Comissão Interamericana de Programa de 1978 à 1980.
Foi responsável pela orientação da Parte III da Insígnia de Madeira (IM) de mais de 20 Escotistas e Dirigentes, entre eles Rubem Suffert (1971), Ivan Bordallo Monteiro (1975), Moacyr Ennes Amorim “Cisa” (1980), Lúcio de Miranda Lima (1981), Armínia Sá Coutinho (1981), Renato Martins Conde (1985), Rogério Silva Prates (2000) e Rafael Pose Vazquez (2001). Foi homenageado, em vida, com a Medalha de Bons Serviços Bronze (1968), Comenda Tiradentes (1976), Medalha de Gratidão Ouro (1979), Medalha Cruz de São Jorge (2000) e a Comenda do Tapir de Prata (2005).
Foto: Curso Avançado em 1984, no Campo Escola de Magé (RJ). Luiz Paulo Carneiro Maia era o diretor do curso.
Depoimento de Luiz Estevam Lopes Gonçalves:
“História de uma amizade escoteira: aprender a aprender com a convivência
Em 1959, levado por minha mãe e, como ela dizia, “entrei para o o Lobinho”. Direto para a reunião da Alcateia 1, do Samuel, Kauffmann. Nesta tarde de sábado, meia hora depois de ter participado de uma rápida atividade, saí da Alcateia 1, do subsolo do ginásio esportivo do Fluminense, voltei pelo corredor do vestiário da piscina, dobrei a direita e, na quadra lateral, entrei para a Alcateia 2, do “Caloca”, Carlos Alberto Caldas Vianna. Ele era o Akelá, o Braune, Domingos, o Balloo. Mas essa é outra história.
Na mesma tarde, vi pela primeira vez o Dr. João, Ribeiro dos Santos. Eu o veria de longe, muitas tardes de sábado mais, quando das imperdíveis reuniões “dessa coisa dos Lobinhos,” como diziam lá em casa. Mas, num dado sábado, no meio de uma destas calorentas reuniões, com o uniforme melado de suor, com o triângulo vermelho da matilha e o distintivo da promessa costurados no bolso e no boné, estava, de fato, olhando para cima, na frente do Dr. João. Terno cinza, camisa de cor, lisa, manga curta, sem gravata, sapato Stachamachia, marrom. Ele fumava. A seu lado, adulto, uniformizado, incluindo o chapeu, largo e simpático sorriso, marca da família. Era Chefe Gusmão, irmão do Joca, João Cezar de Oliveira Lima. Aí o Dr. João disse, apontando para mim: “esse é o lobinho com mais cara de lobinho que tem aí hoje”. Mas esta é também uma outra história. Aliás, duas, que são longas e me são caríssimas.
Um acantonamento, muitas correrias depois, “acabou o Lobinho”, “virei escoteiro”, como dizia meu pai. Já tinha a chave de casa, duas reuniões do escoteiro por semana, noturnas. Um monte de leituras e aventuras, reais e imaginadas. Foram quatro anos de muitas alegrias e um tempo de formar amizades, assumir responsabildades de monitor, de participar da Corte Honra (!). Por aí passava uma disciplina palatável ao pré adolescente. Mas, é mesmo, uma outra história.
Quando já fazia barba, saía à noite para as festas, já era sênior. Seguia na rotina de duas reuniões por semana – uma de tropa (sextas) outra de patrulha (terças) – e, muitas vezes, uma tarde de sábado, para “encontrar os amigos, do escotismo”, como diziam lá em casa. E essa é, sem dúvida, outra história.
Foi no meio de minha vida de sênior que conheci o Luiz Paulo, Carneiro Maia. Nossos pais já haviam se falado em reuniões do Grupo. Como eram funcionários de carreiras afins, mais ou menos da mesma idade, já conversavam, muito antes de que Luiz Paulo e eu conversássemos. Ele era Senior, Akelá, e me convidou para ser Balloo. Fiquei Balloo, por um ano, não mais. Mas foi também ai que Luiz Paulo e eu, sua familia e a minha, desde 1964, começamos a nossa amizade. E essa é a história de hoje, 23. de abril de 2020, dia do Escoteiro, data da morte do Luiz Paulo.
Privei da amizade do Luiz Paulo em suas diferentes atuações nesta vida. Aprendi muito, pela via da observação e por suas diretivas, a pedagogia do Baden Powell. Aquilo que Luiz Paulo ensinava nos cursos formais da Região Escoteira eu tinha nas reuniões, formais e informais do nosso grupo escoteiro. Mais tarde, ele me apresentou à Região Escoteira, para nova atuação dentro do Escotismo. Ele era executivo profissional da Região, incentivava, e orientava – empurrava, se necessário – os voluntários no trabalho em prol do movimento. Com todo mérito, Luiz Paulo recebeu a mais alta comenda do Escotismo
Convivi ainda com Luiz Paulo, pedagogo, psicólogo, nos muitos anos em que ele, além da sua vida de Professor e Orientador educacional, trabalhou como Coordenador de Projetos de Pesquisa de Marketing, Moderador e Professor de Cursos de Treinamento Gerencial, Consultor em Recursos Humanos e como Psicólogo Clínico.
Luiz Paulo acompanhou o nascimento de minhas filhas, com o carinho e os conselhos pontuais do tio postiço mas sempre interessado em dialogar com mais jovens. Acompanhava com redobrado interesse a vida escoteira da minha filha Isabela, que foi lobinha, escoteira, guia, escoteira da pátria. Como ele gostava de me apresentar no grupo, eu era “o pai da Isabela”.
Luiz Paulo esteve a meu lado, no hospital, quando da morte de meu pai e, vinte anos depois, quando da morte da minha mãe. Esteve nos casamentos das minhas filhas. Com alguma frequencia nos visitava para jantas e almoços. Há uma semana, pelo telefone, ele disse a Angela, “que queria sair para vir aqui em casa”.
Sempre discutimos muito, muito. A ponto de termos encontrado o ponto certo de nos provocarmos para uma próxima discussão. Dr. João me falou uma vez de uma classificação das pessoas: “as que falam sobre coisas, as que falam sobre pessoas, as que falam sobre ideias”. Luiz Paulo falava das três. Um dia li num manual de treinamento de orientadores educacionais que as pessoas “tendem a aderir, no dia a dia, a tarefas, não a ideais”. Luiz Paulo, pela via do Escotismo, levava a gente aos ideais através de tarefas.
Este é um dos agradecimentos que devo ao Escotismo em geral e ao Luiz Paulo, muito em particular: permitir-me aprender a aprender com as convivências e tocando tarefas, com amigos como o que nos deixa.
Tive a grata e saudosa alegria de conviver com meu amigo Luiz Paulo com quem pude, por contínuos 56 anos, concordar e discordar, pensar, falar sobre coisas, sobre pessoas sobre ideias e realizar muitas tarefas.
Esse é um dos exemplos e um presente que nos deixa e que o fará lembrado, “sempre na mente, no coração, junto de nós”.”
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